domingo, 14 de setembro de 2008


EXPRESSÕES CONTRÁRIAS


Todos os anos acontecem as mesmas comemorações, as mesmas festas, os mesmos eventos em torno da Semana Farroupilha - primeiramente falando: não podemos de maneira alguma pensar que o termo farroupilha, usado para designar os “rebeldes” que lutavam durante a revolução, foi criada por estas paragens! Esse termo designava um partido de esquerda desacreditado das atenções políticas imperiais no Rio de Janeiro, então capital do império, na primeira metade no século XIX. E para poupar méritos os imperialistas impuseram esse termo nos revoltosos daquela província longínqua, problemática e com uma longa carga histórica de divisas de fronteiras e disputas territoriais. Mas enfim, deixando de lado todos esses fatos políticos e históricos, nos quais deram de fato a identidade da nossa cultura regional, pensemos em quem a mutila todos os anos nessa mesma época que compreende desde os primeiros dias de Setembro até provavelmente os findáveis vigésimos dias desse mês. Pensemos naqueles que não conhecem bulhufas da nossa historia tão incrível, de loucuras em nome de uma república das carroças, de relatos amorosos entre filhas de estancieiros e soldados imperiais, correspondências sem esperanças de chegar às suas amadas - a possível e misteriosa “traição” de Porongos; pensemos nos que apenas vestem uma bombacha e engrossam a voz para parecerem algum “gaúcho”; se comportando como se fossem estrangeiros, moradores de outros estados do Brasil e viessem pra cá, para uma festa à fantasia. Esses que, chegando esses dias comemorativos, não sabem nem cantar o hino do Estado, achando que esse tem apenas duas estrofes e um refrão...Durante o ano inteiro não degustam nenhuma cuia de chimarrão - não lêem nada sobre a nossa história, não conhecem absolutamente nada sobre nenhum fato que ajudou a dar origem ao nosso patrimônio cultural. E muito menos se interessam em saber quem foi um tal de maestro Mendanha, O Pedro Boticário, Teinaiaguá...ou o Bento traidor que se bandiava de acordo com os seus interesses na revolução. Talvez conheçam o negrinho do pastoreio, por ser negro e porque morreu sufocado de picadas de formigas - ou ainda pior: porque acender uma vela em nome dele encontrará algum objeto perdido!
Mas quando chega o mês de Setembro viram gaúchos instantaneamente! Querem andar a cavalo, laçar e usar bombacha - hoje em dia até as mulheres andam de bombacha, no caso seria uma inversão de papéis ao meu ver... Mas vai entender as mulheres, não é?! Nos preocupemos com esses de fato, com esses de deturpam a nossa tão rica cultura, expressando esse “amor à querência” em ritmos de axé e forró - nada contra esses ritmos musicais, mas são expressões de uma cultura popular de uma outra região, com raízes e formação diferentes e meramente semelhante com a nossa. Ou ainda pior, ousando criar um ritmo musical chamado de “tchê music” para cantar as “tradições da nossa terra...” Deplorável a situação em que nos encontramos em termos musicais e de identidade cultural.
Essa semana saiu no Zero Hora uma lista que , na minha opinião, seria um mandato e não uma lista opcional de leitura. Listando os principais livros e obras que relatam com sinceridade e simplicidade, principalmente, a cultura do gaúcho. Podemos citar a maior obra de todas do regionalismo: a triologia do Tempo e o Vento do Érico - ou Os Varões Assinalados do Tabajara Ruas. Essas são umas de tantas outras maravilhas da nossa literatura! Mas vale conferir no jornal as opções de ótimas leituras - só assim tu poderás conhecer realmente como se formou a nossa cultura e assim pensarás e olharás com outros olhos esses festejos tão difamados pela cultura “pop” e niilista da nossa sociedade contemporânea; e vale lembrar o Ângelo Franco: “ A autenticidade é a maior diferença entre os que são e os que tentam ser...”

Nenhum comentário: